segunda-feira, 16 de julho de 2007

Se eu for embora
Em tão tenra idade
Leve-me seus olhos
Úmidos de saudade.


Se não for o caso
De saudades sofrer
Leve-me o silêncio
No fundo de você


Se o silêncio não
calhar ao seu peito
Leve-me ao menos
Seu profundo respeito


Se respeito eu não
Mais lhe inspirar
Leve-me à cova
E capriche com a pá.

 

sexta-feira, 13 de julho de 2007

As palavras

Rebentam, rebanho, na
Superfície dorida
E a ferida à tinta nunca sara.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

almermética

Indomável
estupidez
solta sobre
a superfície do
mundo

abato-me mudo antes de
alçar vôo.

toda palavra
em minha boca
é vã brincadeira,
nenhuma é capaz de
me compreender em palavra

nada traduz
a
miséria
do homem
esmagado
contra o peso
de ser
uma pedra.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Saudade II

A saudade é um Sol extinto
iluminando a noite insone
não brilha, não aquece
não consome no seu lume
outra espécie
que não o homem.

Saudade I

Tinta
que
reinventa
e pinta
luz
nova
na manhã
extinta.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Gesto

Há algo de irrevogável no adeus.
Nos abraçamos, juramos qualquer coisa diante de um
Deus suspenso, vigilante até quando de costas.
É um fato, está nos retratos, no papel, mais do que no papel, no silêncio das bocas, antes generosas, na inércia de mãos agora mortas, uma sobreposta a outra.
Mãos mortas, delas nasceram outras - menos abertas ao afago do que ao adeus redivivo. Delas nasceram outras no gesto de dentro do carro,
não de qualquer carro, mas daquele que nunca parou de partir,
que não se cumpre,
que não retira seu movimento de dentro da terra,
mas do espaço não geográfico, deserto no olhar que ainda vê
A mão espalmada em um adeus tão certo.

Primeira

Aqui jaz escrita
por ora obra completa
Repleta do amplo vazio
Que tece toda matéria.

É torta,
A cara do escriba – dirão.
Mas a letra morta, abrandada,
Sobre esta lâmina branca
Já há muito tempo descansa
E não há mais o que se faça
Com o coração que trespassa
A ponta da minha esferográfica
lança.