sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Silêncio

O que trago, hoje, de mais
Acabado e perfeito
É este silêncio vestindo
Cada pedra arremessada
Cada palavra cravada na carne, no sangue nosso
Que é o mesmo e, desfeito,
Estende-se em rio intransponível.

Nada tenho a te dizer
Do amor que colhi aos vinte e sete anos
Nem sobre qual quer outro assunto cotidiano;
Dos preços, da política, da chuva que cai a esta época do ano,
Nada além do medíocre, das dívidas,
Do pasto curto espaço da sobrevivência ordinária.
Nada

Apenas este silêncio crivado de
Palavras em riste,
Apontando nosso evidente fracasso.

Este silêncio triste, absurdo, que insiste em não se cumprir,
E que só poderia existir
Entre dois irmãos.

2 comentários:

Lobo disse...

excelente, paulão! "apenas este silêncio crivado de palavras em riste". o espanto, o assombro de um "silêncio triste que insiste em não se cumprir" é o que nos leva a cumprir esta sina de construir a partir de sentimentos cotidianos um certo mistério entre as palavras.

Raiça Bomfim disse...

Putz. Fez-se um silêncio como resposta. Um silêncio cúmplice, um silêncio concordante, com mil palavras detonadas e a boca cerrada sabendo que "é isso. E não há nada a dizer". Mas se agora digo, é porque há uma distância, e o silêncio posto nela, não se compreende ainda... Belíssimo texto.

E eu fico é muita grata por ver meu blog relacionado ao seu.